CAPÍTULO
6
Kyle falou com os policiais e disse o que tinha acontecido. Val esperou
que ele terminasse de falar para voltar para o apartamento, quando ela
ia atravessar a faixa que a polícia tinha deixado, ela viu a garotinha
no colo dos pais. Eles se aproximaram e a garotinha deu uma flor para Val,
agradecendo. Val fez um carinho em seus cabelos e ela voltou com Kyle para
o apartamento.
Chegando lá, ela cumprimentou Brendan e Celly pelo bom trabalho.
Eles atiraram em todos, mas não mataram nenhum. Eles nem souberam
de onde vieram os tiros.
- matasse alguém? � Celly perguntou
- eu não, mas a Val sim.
- Val! você disse que não ia matar
ninguém!
- calma Celly, foi preciso � Kyle defendeu Val
� o cara ia atirar na menina. Val tentou conversar com ele, tá certo
que a maneira dela, mas ele não a escutou. Ele estava engatilhando
a arma e Val foi obrigada a atirar. Em dois ela atirou nas mãos,
em um ela foi obrigada a atirar no peito � Kyle se lembrou do pé
de Val. � ele atirou nela
Val já estava na cozinha quando Kyle correu para ver como estava
o pé dela. Celly chegou junto com ele. Val estava sentada em um
banquinho, cantando alguma musica bem baixinho, enquanto colocava gelo
no pé. Celly viu como estava o pé dela. Havia um pequeno
corte, mas o atrito da bala tinha queimado um pouco a pele.
Depois, Val voltou a sentar no parapeito e ficou olhando para baixo. Kyle
olhou para Celly sem entender nada.
- O aniversário do pai dela está
chegando. Ela sempre fica estranha nessa época.
- Vamos para casa? � perguntou Val se virando
para Celly � tô com saudade do papai.
Celly concordou com a cabeça. Ela também sentia falta de
seus pais, Val sempre conversava com seus pais no cemitério. Fazia
uns seis meses desde a última vez que elas voltaram para casa.
Val queria dirigir, mas Celly não a deixou. Val estava com o pé
enfaixado e dizia que não doía, mas Celly sabia que doía.
Como Val, ela gostava muito de dirigir, era relaxante, mas com o pé
daquele jeito, Val não iria dirigir direito. Elas convidaram os
meninos para irem com elas e eles aceitaram.
Dirigiram seis horas até a casa dos seus pais. Sua mãe estava
na varanda da casa, bordando. Celly pulou do carro e correu em direção
à ela. As duas se abraçaram, tentando matar a saudade em
apenas um abraço.
Brendan, que estava no banco do carona, desceu primeiro, depois desceu
Kyle que ajudou Val a descer. Val viera com o pé em cima do banco
para latejar menos. Ela não queria admitir, mas estava doendo.
Kyle a ajudou a ir até sua tia, que veio correndo ao seu encontro.
- Meu anjo! O que aconteceu?
- nada, mãe � Val sempre a chamara de
mãe � um desgraçado atirou em mim.
- ai meu deus! � disse ela colocando a mão
no peito.
- e você, minha filha, o que você
fez? � perguntou o pai de Celly que aparecera, abraçado com ela
- Papai!! � Val exclamou � eu atirei nele, ué!!!
- isso mesmo, ninguém machuca as minhas
meninas! � ele disse a abraçando � mas não foi grave.
- nah! � ela disse coçando o nariz � foi
de raspão, mas sabe como a Celly é..
- Val! podia infeccionar!!! E além disso,
eu sei que tá doendo...
- Não tá, Celly..
- está sim!
- não!
- Tá
- Tudo bem, tá! Mas que coisa.. mas é
só um pouquinho..
- como sempre a Val não dá o braço
a torcer � brincou Kyle
- pai, mãe, esses são o Brendan
e o Kyle � disse Celly
- seus namorados? � perguntou a mãe
- Nah!!! Nossos parceiros. São eles que
tivemos que aturar por dois anos e agora nem sei por mais quanto tempo!!
- Ah.. achei que vocês tinham namorados...
- Ai, mãe, que coisa! Somos muito jovens
ainda! � Val disse a abraçando � será que a mamãe
ganso tem torta de maçã para mim?
- eu sabia que vocês iam vir. Vocês
sempre vêm.. por isso preparei torta de maçã!!!
- Mãe Susan!! Eu te adoro!
- Val, você só gosta das minhas
tortas.. � ela disse a beijando
Kyle e Brendan tiraram as malas do quarto e Val os mostrou onde eles iam
dormir. A casa era grande, mas estava em reforma. Por isso, só tinha
dois quartos livres. Num deles, o que era de Val, os meninos iam ficar,
no outro que era o de Celly, eram as meninas.
Os dois se surpreenderam com o quarto de Val
- Quem diria que a famosa Ice Soul ia ter posteres
de animais e de homens no quarto! � brincava Brendan � veja quantos ursos
de pelúcia.
- Não mexe, BJ. Ela pode não gostar,
eu não sei porque você se surpreendeu. Ela só passava
uma imagem de durona, porque ela e Celly eram as únicas mulheres
e ninguém achava que elas iam chegar aonde chegaram.
No quarto de Celly, Val arrumou sua cama. Ela agora estava com sono.
- Já vai dormir, mana?
- Não. Primeiro vou comer a torta!
Celly riu, Val adorava as tortas de sua tia e sempre que voltava para casa,
se empanturrava. Val se deitou e ao contrário do que queria, adormeceu.
Celly foi ver como os garotos estavam. Sabia que eles iam se espantar com
o quarto de Val.
- estranharam o quarto dela? � Celly perguntou
encostada no batente da porta
- Celly, quem são esses? � Kyle perguntou
apontando para uma foto que estava na cabeceira da cama
- esses são os meus tios, os pais dela
� Celly suspirou
- Eles pareciam tão felizes...
- E eram, Val era uma garota maravilhosa, tão
doce, delicada e meiga � disse Susan que aparecera na porta � depois da
morte deles, ficou bem diferente. Parece que aquela Val morreu naquele
dia.
- mãe, ela continua meiga...
- para nós, minha filha. Ela nos adotou.
Mas para os outros, veja como ela é...
- não se preocupe, eu acho que a Val é
uma pessoa maravilhosa, só que é um pouco diferente do que
estamos acostumados � Brendan disse � ela é muito marota, isso sim!
- Ah! � Susan deu um sorriso � Vocês
não viram nada. Mas vamos parar de falar disso, vamos comer. Celly
onde está a sua irmã?
- Tá dormindo. Deixa ela, ela quase não
dormiu. Sabe como é, amanhã é o dia...
- Pobre menina.
Val dormiu o resto do dia e da noite também. Procuraram não
fazer barulho para que ela descansasse, sabiam que o outro dia seria doloroso
para ela.
Como todos os anos, Val acordou cedo. Havia uma cesta para piquenique pronta
em cima da mesa e Susan preparava os últimos detalhes. Val a abraçou.
- Bom dia mãe!
- dormisse bem?
- Sim. Esse ano a cesta está mais cheia...
algum plano?
- Achei que você gostaria de levar seus
amigos junto � ela olhou para Val � eu sei que você sempre fica sozinha,
mas seria bom se você os levasse. Pelo menos um dos dois. Você
sabe que eu não gosto que você vá lá sozinha!!
Ainda mais nessa época.
- mãe Susan, eu já disse que lá
não tem fantasmas!
- Nunca se sabe
- Bom dia!!!
- Bom dia Kyle. Acordou cedo � disse Susan �
estava aqui tentando convencer Val a levar um de vocês com
ela, para ela não ficar sozinha. Ainda mais com esse pé
- aonde você vai, Val?
- pros cemitérios.
- Pros?
- São dois. Um deles é indígena.
Havia uns índios que moravam aqui, eu sempre vou lá. O outro
é o cemitério dos cristãos, eu vou lá visitar
os meus pais..
- Você fala como se não acreditasse
em Deus
- E não acredito. Tenho muitas razões
para isso. Vamos, se você quiser ir comigo, vamos ter que ir agora.
Temos muito o que caminhar
- Vamos a pé?
- Até certa parte
- Kyle, não liga, a Val gosta de caminhar
e pensar. Mas com esse pé, eu acho que ela não vai conseguir.
Por isso você dirige até o final da estrada e vira a esquerda,
há uma choupana lá, você segue reto até o final
da estrada, onde vai encontrar um bote. Vão ter quer remar até
a grande árvore, depois vocês chegam ao cemitério
� Kyle olhou para Susan, surpreso
- Mamãe Susan está falando sério.
É assim que se chega no cemitério.
Kyle deu um sorriso e disse que não se importava. Perguntou se os
outros iam. Val falou que somente iam a tarde e pro cemitério dos
cristãos. Nos dos indígenas, eles tinham medo e não
tinham permissão.
Kyle entrou no carro e dirigiu como Susan falou. Val ainda lhe indicava
direito o caminho. Eles remaram até o grande carvalho que tinha
uns 300 anos e ficava no meio do rio, Val pediu para que parassem ali,
ela desceu do bote e foi até a árvore, se ajoelhou e disse
algumas palavras em um idioma que Kyle não entendeu.
Depois voltou para o bote e Val teve que ser a primeira a sair do bote.
- É pra dizer que você está
comigo.
- E para quê isso?
- Para que eles não te matem � ela brincou.
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